20100622

Estranha caminhada

Toda nossa vida nos procuramos
procuramos a coisa certa
os bons amigos, os lugares certos
nos preocupamos com as pessoas
com o que falam de nós
todo dia nos achamos em cada rosto
no ontem que se foi
na flor que nem ouvimos
cada dia se vai e vem outro
novo, branco, imaculado
todo fim do dia ele se vai
amassado, rabiscado, sujo
para o lixo que produzimos
lixo reciclável
pode ser recuperado
a busca nunca cessa
até quando quem nos busca
nos encontra e nos leva
pobres, ricos, brancos, negros
felizes e miseráveis
inteligentes ou imbecis
é nessa hora que nos encontramos
é só no fim que começamos
e de novo a procura
a busca, o eterno
a vida que se esvai
e vai...
cada dia não é mais um
e sim menos um
na estranha caminhada.

Talvez

talvez seu caminho mais longo
seja aquele que você tenha de fazer sozinho
talvez sua dor mais crucial
seja aquela que tenha de sofrer escondido
sua pior fome talvez seja aquela
que não nunca se sacia
seu pior pesadelo seja aquele
em que você nunca acorde
sua maior alegria seja aquela
que você ainda não sentiu
talvez sua alma gêmea
já tenha morrido do outro
lado do mundo
cansada por te procurar
talvez aquele rosto que tanto procura
você não vá encontrar
talvez aquela rua por onde você
passou hoje, você nunca mais vá passar
talvez aquela lágrima que você
deixou escorrer nunca seque
talvez você leia essas linhas
apenas uma vez
talvez você ache que é feliz
apenas talvez
talvez....

Caminhar

Caminhava eu sobre as nuvens
nuvens negras
como um campo de algodão
algodão doce como o sal da terra
terra molhada com o sol escaldante

Sol escaldante e úmido
com as águas de março
continuo caminhando
Olho para frente e vejo
por onde já passei

Olho para trás e vejo
meu futuro caminhar
olho com meu olho cego
cego para a maldade
vejo o belo horizonte

As nuvens de algodão
agora mudam de cor
ficam verdes de esperança
amarelas de desespero
e vermelhas de vergonha.

Vejo as águas correndo rio acima
pedras rolando pra não criar limbo
vejo tudo mas não ouço nada
o silêncio é total
de um barulho ensurdecedor
vejo o céu daqui do inferno
e não é celestial

Minha cabeça dói
então acordo
visto meu pijama
e vou pra rua
caminhar por sobre as nuvens
..........

Viajante do tempo

Saio só pela cidade
devagar , não tenho pressa
vejo o bem e a maldade
em cada canto, cada beco
vejo amor e vejo ódio
vejo jovens e idosos
belos e feios
altos e baixos
vejo sonhos
pesadelos
vejo o tempo
passando ligeiro
vejo o sol nascendo
e se pondo....

Vejo tudo, olho nada
uns passam e se vão
outros vem nascendo
outros e outros...

Como a água do rio
sempre a correr
sempre em frente
rápido, arisco,
assustado

A cidade é minha vida
e os seres meus irmãos
vem, vão...
deixam algo
levam algo

Sempre saio
nunca volto
viajo nas asas do vento
nas águas dos rios
sou vento, sou sol
sou louco e sábio
Sou eu
viajante do tempo
....

Dores da alma

Dores da alma.
Quem não as tem.
Incomodam como calos e
ardem como feridas abertas.
Se escondem atrás de nossos sorrisos.

Dores da alma.
Sempre nos pegam sozinhos
no meio da madrugada
e nos fazem molhar o travesseiro.

Dores da alma.
Que nem o passar do tempo
as cicatriza.
Apenas ameniza.

Dores da alma.
Quem não as tem ?

Felicidade

Felicidade?
Onde andas?
Por que se encondes?
Ou será que nem existe?

Andarás pelas montanhas?
A olhar a humanidade errante?
A se matar nas batalhas?
A viver sob os escombros?

Felicidade?
Existes? Ou te criamos?
Baseamos nossa existência em você?
Sem nunca te conhecer?

Às vezes duvido que existas,
quando vejo tantas mortes
nas enchetes, terremotos,
violências e assassinatos.
Tanto pranto derramado
todo dia, toda hora.....
Rios de lágrimas e dor.
Tanto medo e pavor.
Desespero e horror.

Felicidade por que foges
e se escondes.
Se existe apareças.
Mostra tua cara
a esse povo miserável.

Felicidade, ó infeliz
ilusão do ser humano.
........

A chuva

Caí a chuva

como lágrimas do céu

leva junto as tristezas,

dores e cicatrizes.

 

Lava as ruas

a as almas.

Lava o sangue

e o sofrimento.

 

Caí a chuva

Fina e forte;

leve e pesada.

 

Ela é livre...

nada a controla

vem quando quer

e se vai como veio.

 

Chuva do céu abençoada;

traz a vida e também leva.

Abençoa a terra

mas às vezes a desgraça.

 

Caí a chuva

cai do céu.



Palavras

pensamentos doentes
corpos insanos
olhos atentos
mentes vagando
palavras que calam
ouvidos surdos
dores a gritar
gemem o mal
exprimem a dor
dor do saber
dor do sentir
dor do querer
dor do fazer
palavras ao vento
elas vem
elas vão
insanas
profanas
palavras faladas
caladas
na calada da noite
na noite que cai
pensamentos doentes
a dançar na mente
dia...noite...fria
ódio..amor..
quem? alguém?
além....
palavras que
não saem
caem...

A dor

é quando o coração sangra
sentindo se esmagado
sofrido e cansado
e o fio de sangue se mistura
com as lágrimas finas
já cansadas de escorrer
já cansadas de sofrer

correm juntos
formando um vermelho fraco
aguado, dolorido
calado...

é a ferida que nunca cicatriza
a dor ameniza, mas não cala

é o chão que se perde de seus pés
o mundo sumindo à sua volta
a frase que insiste em ficar
martelando na cabeça
todo dia toda hora

o som da voz
o sorriso, a alegria
a calma vem, mas vai
a segurança que tudo está bem
vai e vem

a dor é forte, a saudade é grande
a ferida dói

mas a amizade é eterna

Quem roubou meus sorriso?

Quem roubou meu sorriso?
Teria sido a sensação de fracasso?
Ou as batalhas perdidas?
A dor que não se vê?

Teria sido a busca incansável
de algo que eu nunca soube o que era?
Ou os dias que passaram rápidos demais?

Quem roubou meu sorriso?
A vida? A morte?
Ou será que nunca o tive?

Os dias são cinzas mesmo
quando o sol brilha.
As flores não tem brilho
As cores não tem cheiro.

Torço para o tempo voar.
Para da morte me aproximar.
Minutos, horas, dias a passar.

Sem sorriso, sem alegria...
Quem me roubou??

Dias a passar....
Só o nada a rondar.
Só o nada...
Só.....